Sent: Monday,
October 21, 2002 11:18 AM
Subject: regina e o poder da
telinha
me coloco como um dos críticos da
postura arrojada da atriz global Regina Duarte. Apesar do meu distanciamento
dos bastidores da política eleitoral nacional, defino que as palavras da atriz
foram indelicadas e imprecisas trabalha com o hipotético. Citando uma frase da senhora
no artigo de hoje [21] “com a engenharia emocional não se governa
democraticamente”, reflito que a Regina Duarte usou a arte para dramatizar uma
situação. Sendo assim, o poder da arte é parte da engenharia emocional. A
senhora, uma estudiosa, jamais utilizaria do achismo [só para ilustrar, vou citar um refrão
de uma música do Noel Rosa: “quem acha vive se perdendo/por isso vou me
defendendo de uma dor tão cruel e uma paixão...”]para concluir o seu objeto de
estudo. O que a Regina fez foi imaginar [o ator] uma crise inflacionária, a
perda de bens, da instabilidade política e da turbulência do mercado. Lógico
que a atriz lê jornais, imagino, e lá foi estampado diariamente que o suposto
governo Lula preocupa parte dos banqueiros internacionais e países. Então,
professora, o depoimento da atriz global é pura engenharia emocional, porque os
textos jornalísticos foram e são baseados em informações de especialistas no
assunto (econômico e político). Professora Lourdes, quem conhece um pouco de
publicidade sabe muito bem que o que prevalece é o emocional e o imaginário nas
campanhas publicitárias. Na verdade, o Duda Mendonça valoriza as qualidades da
atriz para vender a imagem de um candidato revolucionário, anticapitalista,
favorável a moratória, arredio ao processo das privatizações, comunista. Faço
lembrar que o então candidato Fernando Collor de Mello [aquele do saco roxo] disse no debate de dois dias antes do pleito, que mumificou a imagem do
candidato Lula, a milhões de brasileiros que Lula era um fora da lei porque
possui aparelhos eletrônicos que não tinha condições de comprar. Foi uma grave
insinuação que chamou a atenção de eleitor no momento de colocar o voto na
urna. Já naquela época a engenharia emocional ajudou indevidamente o collorido.
A engenharia emocional deve contemplar a arte de interpretar e não no sentido
de bagunçar a cabeça do eleitor brasileiro. Concordo plenamente que a fala de
Lula foi agressiva e pejorativa. Jamais um candidato à Presidência da República
deveria se posicionar de tal maneira. Acredito que foi a engenharia emocional
que bateu mais forte. Tenho certeza que Lula vai pedir desculpas a Regina
Duarte porque é um cidadão democrático, racional e emotivo.
Não desejo que o depoimento de Regina
Duarte seja classificado como um manifesto metafórico, mas podemos dizer que
foi um depoimento da engenharia emocional. Ou seja, a atriz, imbuída pelas
performances em diversas telenovelas, acreditou que a arte de interpretar
personagens (viúva Porcina) pudesse também ser incorporada na arte de fazer
política. Eu também tenho os meus medos (todos têm), mas o meu medo não será
transformado em um balão de ensaio para derrubar uma plataforma política que ao
longo dos últimos 20 anos foi se adequando à realidade brasileira e foi a única
a ser páreo para os vitoriosos presidenciáveis (Collor e FHC). É bom registrar
que Lula se candidata pela quarta vez e em momento algum desanimou na busca de
um país com justiça igualitária. Concordo que o radicalismo dele atrapalhou o
seu desempenho na política nacional. Na verdade, ele era um adolescente
[política] com 45 anos, angustiado com a situação brasileira. Na ânsia de
transformar o real em o ideal usou de armas que não condiz com o perfil
político nacional. Professora Lourdes, independente do seu voto do dia 27, não
podemos nos esquecer de que esse cidadão do sertão nordestino merece ser
respeitado com todas as letras. Por quê? Porque hoje ele representa a alma do
brasileiro. Brasileiro é aquele que acredita nas incertezas. Brasileiro é
aquele que sonha com o amanhã mesmo não tendo teto para dormir. Brasileiro é
aquele cidadão simples, mas rico em solidariedade. Brasileiro é aquele que
acredita no político sabendo tudo é politicagem. Brasileiro é aquele que acorda
ao amanhecer imaginando um dia mais iluminado. Brasileiro é aquele que olha nos
olhos e diz: “como sou feliz, mesmo não sendo feliz”. Brasileiro é aquele que
carrega um pouco de Macunaíma e a saga de Os Sertões.
É isso!
saudações.
vieira-jr (antônio vieira júnior)
cidadão brasileiro há 49 anos
@ texto escrito com base no depoimento da atriz no programa político de Serra.
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