Santa Fé do Sul, 14 de
janeiro de 2008
Para
???
De
Vieirajr
Professora ???, o que
escreverei agora não é ressentimento, melodrama é apenas o relato de um colega
indignado. Nas últimas 120 horas me senti o “Coco do cavalo do bandido.” Ou
seja, sem valor algum. Diante do quadro exposto por você, após ouvir alguns
alunos, sobre a minha performance em sala de aula, fui ouvir os meus contatos.
O que eles informaram, resumindo, foi o seguinte: “Professor Vieira, o senhor
fala rápido demais, pensa mais rápido ainda, é rígido ao extremo nas avaliações
(força a amizade: termo usado por eles), chama muita nossa atenção, é exigente
quanto a produção de textos, não forneço apostila e não aplico exercícios após
a explicação do conteúdo”. Concordo com todos os registros, apenas justifico o
último. Acontece que somos professores horistas e trabalhamos com centenas de
alunos, na minha modesta análise, dificulta a aplicação de exercícios. Nenhum
dos contatos citou a falta de conteúdo e muito menos em relação às normas 6023,
referências, e 10520, citações. Todos foram unânimes: o conteúdo foi
ministrado.
Este é o terceiro texto que
escrevo sobre o assunto. Acredito que é o mais ameno. Os outros estão
carregados de emoção, o que foge da proposta de um diálogo mais acadêmico,
profissional e enxuto. Lembrei-me dos alunos: “Professor Vieira, você está
viajando!” Peço desculpas pelo uso de expressões que compõem o discurso comum.
Suas palavras pronunciadas
naquela manhã de quinta-feira soaram e ressoaram pelos meus ouvidos
incessantemente ao ponto de me classificar como o inepto ao exercício
didático-pedagógico. Aliás, que aprendi vivenciando. Perguntei-me várias vezes:
“Tenho conteúdo metodológico científico para discursar?”. Revirei meus
apontamentos, registros de aula, plano de ensino para ver se encontrava
justificativa para minha condenação tão bem articulada por um grupo de alunos.
Não encontrei. Como ser humano que sou, não estou, estou sujeito a falhas,
impropriedades e deslizes. Mas em momento algum fui desleixo, irresponsável ou
incoerente com minha visão de mundo e acadêmica. Pelo contrário, me pautei nos
princípios éticos, morais e metodológicos. Lógico que pequei, mas não ao ponto
de ser repudiado e condenado sem me conhecerem. A Justifica Forense condena o
pré-julgar. É crime.
Seguindo esse raciocínio do
pré-julgar, posso também condena-los. Em 2006, pela porta da minha sala (Numpe)
observei a “passeata” de alunos; uns ao banheiro, outros ao Careca, alguns
ficavam conversando pelos corredores. Era um corre-corre quando um deles, que
estava em sala, avisava que a chamada estava sendo feita. Fato que comuniquei a
você. Tá lembrada? Mas isso pouco importa agora. O que quero dizer é o
seguinte: se esses alunos podem me condenar por um crime que ainda não cometi,
também tenho o direito de incriminá-los. Não é verdade! São esses mesmos alunos
que dormem em sala de sala, que conversam, que entram e saem na maior. São esses mesmos alunos que se
dizem críticos. Criticidade vai além
do umbigo. Crítico é ser e não estar. Crítico é contextualizar. Na verdade, o
quanto seria mais enriquecedor as aulas com a presença de alunos críticos, que
participam, estudem e lêem o conteúdo ministrado e não ficam à mercê de uma
apostila. O aluno crítico reivindica conteúdo e não apenas a nota. A nota, na
verdade, nasce do conteúdo e não o conteúdo é fruto da nota. Não se pode
inverter o caminho da história. Ou seja, primeiro a teoria, depois a prática.
Por escrever sobre “lêem” foi
ministrado conteúdo sobre os tipos de leitura, inclusive com recomendação para
lerem temas relacionados à futura profissão, fundamental para construção do
artigo científico. Em suma, com alunos críticos seremos mais estudiosos e não
ficaremos reproduzindo as apostilas já amareladas pelo tempo. Com alunos
críticos teremos mais dedos na
contextualização de um tema específico. Lógico que pequei, mas não omiti.
Porque fazer ciência é racionalidade e nasce de uma necessidade humana. Para
aprimorar a escrita, independente da área de conhecimento, é fundamental
escrever sempre. O que quero dizer é que o aluno precisa valorizar o escrever
em tempo real e não no tempo virtual.
Professora ???, diante dessa
exposição, digo que não posso e não devo, embora desejo, ministrar aulas apenas para o primeiro termo, conforme seus
planos. Explico: Se não estou apto a ministrar a disciplina Metodologia da
Pesquisa Científica dois (6º termo), como posso estar habilitado a um? È
ilógico. Minha imagem ficará ainda mais desgastada porque fui “barrado no
baile” por alunos que não me conhecem em sala. Agora, no instante em que o aluno vai
transformar a teoria em prática, eu fico fora, é inverossímil. Para mim é
imoral.
Compreendo que temos o aluno real
e não o aluno ideal. Mas não devemos nivelar por baixo porque criaremos a falsa
esperança de um país mais justo e igualitário. Devemos pensar que é possível
lapidar e formar o cidadão-profissional no meio da multidão. Se caminhar na
contramão, criaremos alfabetizados funcionais, aquele que não interpretar,
apenas reproduz. Faço lembrar que o aluno é passageiro. O aluno é exigente
quando seus são deveres são cobrados. Aprendi com Tom Zé, meu amigo de longa
data, que o universitário tem o momento exato de se exato de mudar e esquecer o
coletivo que tanto apregoa. O nosso da Funec, não foge à regra.
O curioso na sua explanação é que
o aluno não tem tempo e tem dificuldades no aprendizado. Se assim o é, como ele
pode me julgar? “Quem saber faz a
hora/não espera acontecer”. (Geraldo Vandré)
Estou nesta labuta acadêmica há
mais de 15 anos. Cheguei a trabalhar com 350 alunos do quarto ano de
Jornalismo. Olhe que eles eram uns pentelhos,
mas nunca me desqualificaram. Brigávamos, discutíamos, mas nada além da
produção de um bom jornal-laboratário. Coordenei cursos e TCC, ministrei
Metodologia da Pesquisa Científica, trabalhei em dezenas de escolas, experiência
que me deixa em paz de espírito quando enfrento dificuldades, mas ao mesmo
tempo me conduz à defesa. Registro que não estou na defensiva, mas apenas me defendendo de uma justiça injusta. Defesa
e defensiva não têm o mesmo significado. A primeira você tem estratégia, meta;
enquanto a segunda é retrógrada e marqueteira.
Não posso deixar de apontar o seu
desejo de orientar os alunos sobre referências e citações. Nada contra sua
habilidade em cuidar do método científico. A minha repulsa é acreditar no aluno
que diz ou disse que “não aprendeu” como se faça uma referência ou citação.
Professora ???, se eu fosse acreditar em tudo que o aluno comenta e fofoca
não há na face da terra professores qualificados para ensinar. O disse-me-disse ou Mensagem à Garcia é o
canal de comunicação do alunado. Aliás, com muitos ruídos e vocabulário variado
e diversificado.
Não quero me vangloriar pelas
minhas ações, mas deixo registrado que estes mesmos alunos participaram, sob
minha coordenação, do Minuto do Abraço e do Dia do Abraço. Foram momentos
gratificantes porque aprendi o quanto um gesto de atenção nos modifica. Mas ao
mesmo tempo me entristece, mas não me surpreende, ao observar que por traz de
uma cortina se esconde uma minoria desatenta ao universo acadêmico. É com
sentimento púbico que me inspirei para escrever este singelo texto aos alunos
do 1º termo do primeiro semestre de 2007. São palavras que sentimentalizam um
viver sob a virtude do saber contínuo. Li no último dia de aula para eles.
Sonhos
O olhar é de
perplexidade e de sonhos.
O pensar é mágico nas
linhas da filosofia.
O escrever é tributo
do saber ético.
A dúvida alimenta a
certeza.
Os métodos os levarão
à busca incessante.
A ciência à criticidade
autêntica.
A pesquisa à razão
patológica.
A responsabilidade
social à promoção da saúde.
O estudar os ilumina
na rota da vida.
Não há meta sem
parâmetro e não existe
futuro sem presente e
passado.
O vislumbrar é a
força motriz para aqueles
que não se cansam ao
caminhar.
Já a universidade é a
casa do conhecimento
e da possibilidade do
erro.
Sonhadores, nunca
acreditam que sabem menos sobre mais.
Acreditem sim que sabem mais sobre menos.
Porque só assim serão
vocês.
Reflitam: não há
prática sem teoria.
Lembrem-se: o
fundamental é ser feliz.
Foram quatro meses de
idas e vindas.
Período fértil e de
transparência acadêmica.
Obrigado por aprender
com vocês.
E até agosto de 2009.
Vieirajr