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quinta-feira, 3 de março de 2011

Amizade é eterna


Por
Vieirajr (Lata)

A vida nos ensina que viver é não ter a vergonha de ser feliz e que não basta apresentar a carteira de identidade para chegar aos céus, se é que ele existe. É muito mais que os números de documentos que somos obrigados a ter para provar a nossa vivência aqui no planeta Terra. Mas o que importa é que a vida é um mistério profundo e somos os benfeitores de fórmulas e caminhos para viver a vida como ela é. E nestes traços que a vida nos oferece, viajamos, conhecemos as estrelas, pulamos muros, rompemos pontes, atravessamos fronteiras, buscamos o amor de humanidade, o amor de verdade, o amor a arte, o amor a amizade sem limites. Aquela amizade sem assinatura em cartório, sem preconceito, sem credo, sem barganha, sem o medo de ser feliz. A amizade do amor profundo e da paixão. No vai-e-vem dos anos nada mais gratificante que amar como se não houve o amanhã. O prazer de ter prazer é viver o presente, sem se esquecer passado. É pelo passado que viajamos. O futuro só imaginamos.
Você, leitor, já sacou o quanto é difícil escrever sobre a vida, principalmente quando é regada de amizades fiéis e saudosas. Estou aqui na busca de palavras, inspiração, se é que a tenho, para expressar o meu sentimento sobre a amizade. Na década setenta, século passado, ouvíamos e tentávamos, eu e amigos de boêmia e futebol, cantarolar Amigo é pra essas coisas, tão brilhantemente interpretada por MPB4. Saímos pelas ruas incandescentes de Jales a procura de um buteco para ensaiarmos a lindíssima melodia a base de cachaça. Depois percorríamos outras ruas para mostrar a nossa amizade em ritmo de cantoria. Coitadas das nossas amigas! Como sofriam! Mas faço recordar que a letra é a poesia da amizade eterna. Aquela amizade que nos emociona na alegria e na tristeza. Enfim, éramos absurdamente desafinados. Fizemos um bem danado para a música popular brasileira. Mas garanto a você que foi amor profundo a primeira vista. Quero dizer que amizade só se sela quando há o amor de criança, de adolescência e de maturidade. São estas fases da vida que norteiam a amizade sob qualquer suspeita. Pois foi nestas andanças que amigos formei. Nada mais salutar que rever as lembranças (fotos, textos, recortes de jornal, vídeo, memória) e encontrar no meio da bagunça a velha (antiga) amizade que renasce num instante mágico. Sabe o que significa este retrospecto? A alma se torna jovial, amiga, sorridente e inesquecível para os nossos olhos (?!)
O complicado de encarar a vida são as saudades que brotam com o tempo. São as amizades que se transformam em sonhos de criança e vão viver o sonho dourado. São nestes momentos de memorial que retraçamos os nossos pontos cardeais e passamos e sedimentar ainda mais a amizade. Há brigas. Há dúvidas. Há ciúmes. Há camaradagem. Há vida. Há o vermelho. Há o branco. Há o carnaval. Há o futebol. Há o Ipê. Há o Sputnik de muitos amores. Há a tradução do samba. Há a avenida Jalles. Há entre nós a esperança de um novo tempo, embora ele roda rápido. Há a virtude da sobriedade. Há o valor humano. Há o princípio da família. Há de verdade a verdade na amizade quando nasce do nada. Aquele tipo de amizade que os laços vão se formando de acordo com o nó que cada um dá. Quando mais apertado for o nó do laço mais a amizade é intocável. Há o segredo do segredo. Aquele que você não revela a ninguém. Há a amizade a nível de.
Tive a felicidade de registrar raros momentos de vida e amizade. Sempre tive como companhia uma máquina-câmara fotográfica. A nível de conversar estou digitalizando fotos, textos, recortes de jornal, documentos e foi assim que encontrei há dias uma das fotos que mais me marcou recentemente, principalmente após a partida dos meus tios seo Moraes e dona Ophélia. Bateu uma saudade profunda e fui à cata de cristalizar as minhas vidas. Pode acreditar, tenho vidas porque sou um sonhador. Mas jamais me esquecerei das minhas terrestres amizades.

O que será, será
E uma delas chama-se Newton José Costa (Bola). Não sei precisar quando nasceu o laço de amizade. Só sei lhe dizer que foram longos anos de sentimento eterno. Fiquei longe de Jales. Fui viver em São Paulo, na Amazônia e fazia planos de retorno. Recordava-me dos carnavais. Dos futebóis. Das brigas antes, durante e depois do desfile de carnaval. Que magia! Que fantasia! Ao acordar, lá em Porto Velho, minha alma cantava os versos dos samba-enredos do Sputnik e das amizades. O que quero escrever é que o Bola foi uma dessas amizades que nunca se finda. Nunca termina mesmo nas crises mais críticas. Jamais me esquecerei dos seus suaves passos na ponta direita do Sputnik, e delicadamente pedia a bola: “Passe a bola, porra!” E nada de bola para o Bola. Ele subia e descia como se fosse o ala de hoje. Lógico que ele era mais feliz porque jogava por amor a camisa vermelha e branca que ajudou a construir um dos mais completos clubes de Jales. Nós, eu, Wilter, Oleno, Zé Antônio, César Camilo, Edgar, Paranhos e companhia, morríamos de rir. Boa saudade. Lá de fora o técnico Tonelli esbravejava e gritava: “Lança o Bola!” E nada de bola para o Bola. Mas quando a bola chegava no Bola não tinha lateral que segurava o Bola. Ou passava a bola ou o Bola. O problema era na hora de cruzar a bola para a área. Ele, o Bola, corria tanto que não tinha fôlego suficiente para chutar com a mesma velocidade e volúpia quando corria e pedia a bola. Bola, você foi demais com a camisa do Sputnik. Não era craque como ninguém era naquele time de voluntários que jamais treinaram, mas tinha competência e seriedade mesmo nas diversidades das incompetências daqueles que administravam o esporte de Jales.
No carnaval o Bola administrava a grana do Sputnik. Tudo funcionava harmonicamente. Tanto é que vencemos todos os carnavais. Éramos organizados e desorganizados para a oligarquia jalesense. O que foi ótimo para a nossa ascensão. Foi sob o olhar estrábico da oligarquia que o Sputnik se consolidou. Tenho o orgulho de afirmar que o Bola foi o nosso companheiro de todas às horas. Acabo de me lembrar do primeiro uniforme do Sputnik (1970). Era uma camisa listrada em vermelho e branco. Foi feita uma lista e cada um doava uma camisa ao clube. O Bola e seu irmão Júnior foram os primeiros. Quem comprava a camisa no Pêgolo a deixava na farmácia do seo Amador, pai do Jack e Expedito. Foi assim que o Sputnik teve o seu primeiro uniforme e depois vieram outros e vitórias também. A maior foi nos jogos do SESC em Jales, organizado pelo Arrois. Lembram dele? Vencemos tudo e mais um pouco.
Escrever não é fácil, principalmente quando estamos pra lá de marraquechi. Aportuguesei. Acabo de me lembrar de um texto de Vinícius, Amigos meus. É o que procuro descrever aqui. Como é complicado perder o amigo terrestre. Você fica fora de órbita. Fica revoltado e acredita que é sonho. O tempo passa e a verdade flora. Quando soube de sua ida fiquei estático e imaginativo. É duro pensar no amanhã. Brigo comigo para sempre me lembrar do hoje. E hoje me lembro do Bola. Bravo. Carrancudo. Cara de poucos amigos. Concentrado. Pai pra lá de pai. Apaixonado pela Neusa. Amava os irmãos e os pais de corpo e alma. Acreditava na vida e lutou por ela. Deu exemplo de cidadania ao colocar em pauta a sua doença. Foi forte para espantar os mistérios da vida. O Bola, meu querido amigo, jamais se esqueceu de viver. O tempo para ele foi o tempo do Bola. Foram cinco décadas de bravura e teimosia que só pertencia ao Bola. Era dele, só dele. A doença, que doença! O Bola foi desses personagens de Jales que deixou marcado no tempo o valor humano. Não pertenceu a oligarquia, mas circulou por entre os tais. Defendeu a história do Clube do Ipê porque acreditava no amanhã.
Preciso encerrar o meu texto, porque o Deonel pode não publicar. Tá longo. Mas ele deve entender que escrever para amigos e de amigos é qualquer coisa de amor eterno. É sambar na poesia. A dor da saudade é infinita. Quando me refiro à dor é a dor do nada. É a dor física. É a dor do não ver. O Bola é o sentimento de luta. Do viver como nunca. Do pensar eterno. Do olhar e não ver a dor. É meu amigo! Você é daqueles cidadãos que vão além do limite do viver. Viver, você sabe muito bem, requer dedicação, empolgação e transparência. Declarar amor a alguém é inverossímil para os dias de hoje globalizado. Estamos aos poucos sendo mais uma vez comidos pelo Capital. A família está se concentrando em frente ao mundo cibernético. Ou seja, a conversa é pelo MSN. Você lá e eu cá. Você, Bola, não se deixou levar pelas mazelas da cibernética. Seus filhos são testemunhas do meu testemunho.
Mudando de assunto. Você que é feliz. Está ao lado dos bons. Dos eternos. Toma cuidado com as más companhias. Não vou dar nomes aos bois porque vou me comprometer. Ah! O Luxemburgo é novamente técnico do Santos. O Barriquelo jogou uma mola no capacete do Massa. Fudei! O Lula está dormindo e acordando com o Sarney. A esposa já está com ciúmes. Coisas de político que não tem sexo. Toma lá dá cá. Cara, preciso parar de escrever porque amanhã é dia de trampo. A gripe suína (risos) chegou. A política em Jales vai ao embalo do Planalto. Uns querem, outros também. É promotor com prefeito. Prefeito com promotor. Só sei que o nosso dinheiro paga a conta dos dois.
Só para lembrar. Em 2010 o glorioso Sputnik completa 40 anos. Vamos festejar. Se prepare. Mais uma vez vamos viver o sonho dourado.
Abraços dos amigos eternos e eternos amigos.
junho, 2009

Um comentário:

  1. Grande Vieira... Amigo é assim mesmo. Gostei da sua frase "Há de verdade a verdade na amizade quando nasce do nada. Aquele tipo de amizade que os laços vão se formando de acordo com o nó que cada um dá." Tu se torna responsável, sempre que cativa alguém. Sorte. paz e felicidade. Abraço com carinho santista. Rúbia

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