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sexta-feira, 7 de abril de 2017

O que escrever

O que escrever? É a pergunta que faço todos os dias ao acordar e me levantar. A minha tortura escrita começa na madrugada quando vasculho a minha memória na tentativa de encontrar o sono perdido em algum lugar do passado. O meu sono-sonhado é fragmentado que mistura lembranças, passagens, avisos, mensagens e também pesadelos.
O que escrever? Puxo na minha história se há a obrigação para escrever todos os dias. Penso comigo se o ser humano nasce com a missão de deixar registro nos papeis da sua trajetória na vida terrestre. Acredito que o nosso DNA tem marcado nas suas entranhas o nosso perfil linguístico e/ou escriba. Mas, e daí! Exclamo eu indignado e reflexivo porque a minha inspiração nem sempre está em alta ou talvez eu não tenha tido a felicidade de participar de uma das mais importantes revoluções que aconteceu há mais de 70 mil anos: a Revolução CognitivaO que escrever? Olho pro lado, já sentado à mesa para o café da manhã, após alimentar os bichos que me cercam ávidos de fome, e me vejo ao avesso e sem qualquer palpite para transportar para o papel, ou melhor, para o monitor do meu computador. Pausadamente coloco o açúcar mascavo na xícara, três ou quatro colheres pequenas, em seguida despejo o café bem forte, uma dosagem de leite e misturo ligeiramente os três ingredientes que farão parte da minha dieta, além das torradas integrais banhadas com manteiga sem sal ou qualquer tipo de queijo.
O que escrever? Antes de partir para a escola ainda vasculho o meu cérebro em busca de motivos que me levam a escrever todos os dias uma, duas ou dezenas de linhas só para marcar o ponto. Mas num relâmpago, aquele que nasce e morre em segundos, mas que deixa estragos ou vislumbres, me volto aos tempos da graduação e pós. Ah! Agora entendi o porquê que me cobro todos os dias. A vida acadêmica é bela, conquistamos conhecimentos, desvendamos o óbvio e sacamos que somos ignorantes. Aqui me remeto aos pensadores pré-socráticos, que, segundo eles, devemos assumir de forma límpida a nossa ignorância, porque só assim teremos condições de buscar respostas para as nossas dúvidas.O que escrever? Os títulos conquistados –­ com muita luta, rigor, dedicação e amor ao texto – ao mesmo tempo que nos enobrece nos deixa de quatro. A sensação é que assinamos uma carta compromisso que devemos escrever sempre, independente da nossa inspiração ou do conteúdo teórico que adquirimos com leitura e com a experiência de vida {empírico, que é partida em direção à ciência}. Os anos se passaram e percebo que estou preso a um tempo que me fez muito feliz porque a escrita nascia do nada, como dizia o cronista Rubem Braga. Hoje me torturo, não assimilo o bullying psicológico que me segue e não consigo me desvincular do sentimento de culpa que bate à porta. Como me sinto moribundo toda vez que me pego pensando no que escrever.Escrever por escrever não me sinto livre, se é que somos livres, ou espontâneo para expressar o meu vocabulário de palavras num contexto histórico e político.

O que escrever.

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